Ma liberté de danser (Prefácio)
Dina – Minha liberdade de dançar
Jimmy Carter, Richard Nixon ... Houve portanto um tempo, não muito
tempo atrás, em que nenhum chefe de estado podia vir ao Cairo sem que um show
de dança do ventre fosse organizado para ele. Naquela época, as raqa'sas,
as dançarinas, eram numerosas nas disputas pelos palcos, cada uma mais exuberante
do que a outra. Elas faziam parte da vida diária dos egípcios. Então, levou
apenas alguns anos, um estalar de dedos, para o Egito mudar. Em 1960, nas
fotos, as mulheres aparecem com os braços e a cabeça descobertos. Cinquenta
anos depois, o véu se tornou a norma. Mudanças geopolíticas profundas,
perceptíveis em todo o Oriente Médio, transformaram a sociedade egípcia. A
começar pelo crise do petróleo que, no final dos anos 1970, atraiu milhões de
trabalhadores egípcios como um ímã para a Arábia Saudita e os países do Golfo.
Esses expatriados, voltando ao país alguns anos depois, trouxeram consigo costumes
religiosos mais rígidos, que não existiam no Egito. E no meio deste povo bon
vivant, amantes das artes, da música, começa assim a surgir uma outra face,
muito mais pudica.
A abertura econômica instituída pelo presidente Anwar el-Sadat,
também contribuiu para desequilibrar o país. Gradualmente, refugiando-se na
moralidade ou na falta de dinheiro, os egípcios começaram a abandonar o rito das
dançarinas. Muitos casais hoje se casam sem a dança delas, rompendo com a
tradição e as promessas de sorte, da baraka, trazidas pela presença das
dançarinas na noite de núpcias.
Dina, porém, decidiu ser a guardiã das tradições. Carregar a tocha
até que seu corpo clame por misericórdia, sem nunca fugir dos golpes do
destino, da maldade dos homens, da dureza da vida. Em nome de um princípio
universal que ela teimosamente fez seu, uma palavra que ela repete sem parar:
liberdade.
Liberdade. El Horreya, como se costuma dizer em árabe. A
palavra mais bonita, disse ela, que uma língua carrega.
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