Ma liberté de danser (Prefácio)

Dina – Minha liberdade de dançar

(tradução de parte do préfacio)



Dina. Em todo o mundo árabe, o seu primeiro nome é o suficiente para apresentá-la. Por mais de vinte anos, ela esteve nas manchetes, dominando as telas do cinema e da televisão. Enormes multidões se alimentam de rumores que sistematicamente a cercam, seja o que for que ela faça, cada uma de suas ações e gestos, como uma áurea misteriosa e venenosa. Dina não tem vida, mas vidas, que se entrelaçam, cada uma mais inimaginável que a outra, repleta de dramas, escândalos, alegrias e glamour. Seu carisma, sua obstinação em dançar - apesar dos anátemas (maldições) lançados por fundamentalistas - sua liberdade louca falam sobre ela além das fronteiras do Oriente Médio. Porque hoje, na terra do Egito, terra de origem da dança do ventre, Dina é a última das grandes a perpetuar a tradição.

Jimmy Carter, Richard Nixon ... Houve portanto um tempo, não muito tempo atrás, em que nenhum chefe de estado podia vir ao Cairo sem que um show de dança do ventre fosse organizado para ele. Naquela época, as raqa'sas, as dançarinas, eram numerosas nas disputas pelos palcos, cada uma mais exuberante do que a outra. Elas faziam parte da vida diária dos egípcios. Então, levou apenas alguns anos, um estalar de dedos, para o Egito mudar. Em 1960, nas fotos, as mulheres aparecem com os braços e a cabeça descobertos. Cinquenta anos depois, o véu se tornou a norma. Mudanças geopolíticas profundas, perceptíveis em todo o Oriente Médio, transformaram a sociedade egípcia. A começar pelo crise do petróleo que, no final dos anos 1970, atraiu milhões de trabalhadores egípcios como um ímã para a Arábia Saudita e os países do Golfo. Esses expatriados, voltando ao país alguns anos depois, trouxeram consigo costumes religiosos mais rígidos, que não existiam no Egito. E no meio deste povo bon vivant, amantes das artes, da música, começa assim a surgir uma outra face, muito mais pudica.

Cairo 1941

Concurso de Beleza 1956

A abertura econômica instituída pelo presidente Anwar el-Sadat, também contribuiu para desequilibrar o país. Gradualmente, refugiando-se na moralidade ou na falta de dinheiro, os egípcios começaram a abandonar o rito das dançarinas. Muitos casais hoje se casam sem a dança delas, rompendo com a tradição e as promessas de sorte, da baraka, trazidas pela presença das dançarinas na noite de núpcias.

Dina, porém, decidiu ser a guardiã das tradições. Carregar a tocha até que seu corpo clame por misericórdia, sem nunca fugir dos golpes do destino, da maldade dos homens, da dureza da vida. Em nome de um princípio universal que ela teimosamente fez seu, uma palavra que ela repete sem parar: liberdade.

Liberdade. El Horreya, como se costuma dizer em árabe. A palavra mais bonita, disse ela, que uma língua carrega.


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