Os Haréns do Imperio Otomano by Giselle Rodriguez
Os Haréns do Império Otomano
(trecho do livro Danza Oriental en Egipto de Giselle Rodriguez)
Uma das primeiras descrições sobre a vida dos haréns do
Império Otomano foi escrita por uma nobre inglesa: Lady Mary Wortley Montagu
(1989-1762), esposa do embaixador britânico na corte otomana. As cartas de Lady
Montagu constituem uma fonte única sobre a sociedade turca porque ela foi
admitida na elite da sociedade feminina, a que nenhum homem europeu tinha
acesso. As cartas, enviadas da Turquia, se popularizaram nos séculos XVIII e
XIX.
Na carta de 18 de abril de 1717, dirigida à condessa de Mar
Andrianópolis (agora Edirne), Montagu escreveu:
“Me convidaram para jantar com a mulher do Grão-vizir, e foi
com muito prazer que me preparei para um convite que nunca antes havia sido
feito a um cristão. Quando terminou o jantar, a mulher grega que me acompanhava
me pediu para visitar Fátima, a esposa do kiyaya (segundo no comando
depois do Grão-vizir).
Me receberam dois eunucos negros que me conduziram por uma
larga galeria ladeada por belas jovens com o cabelo trançado que quase lhes
chegava aos pés e vestidas com finos brocados cor de damasco e bordados com
prata. Chegamos ao salão e me sentei na esquina, no lugar de honra. Fátima me
explicou que as duas meninas aos seus pés (a maior das duas tinha uns 12 anos)
eram suas filhas, apesar dela se ver muito jovem para ser sua mãe. Suas vinte
donzelas estavam sentadas em uma fileira aos pés do sofá. Quando lhes fez um
sinal para tocar e dançar, quatro delas começaram a tocar instrumentos que pareciam
algo entre um oud e uma guitarra, e a cantar, enquanto as outras
dançavam se revezando em turnos.
A dança era muito diferente do que eu já havia visto. Nada
podia ser mais artístico ou mais adequado para ter certas ideias. As melodias
eram tão suaves e os movimentos eram tão languidos! Acompanhados de pausas e
olhos moribundos, caiam para trás para logo se erguer de uma maneira tão artística
que tenho certeza que a puritana mais fria e rígida da Terra não poderia olhar
para elas sem pensar em algo de que não se pode falar...Quando terminou a
dança, quatro escravas entraram no salão com incensários de prata e perfumaram
o ambiente com âmbar, madeira e outros deliciosos aromas.”
Uma evidência de que os haréns do Império Otomano
influenciaram na dança no Egito é o traje das bailarinas do século XIX descrito
pelos viajantes ocidentais, como Edward William Lane, que consistia em um entari
o yelek (uma espécie de casaco comprido) e calças estilo bombacha características
dos haréns turcos. Também se sabe que eunucos egípcios trabalhavam em alguns
desses haréns.
O harém mais conhecido do Império Otomano foi Grande Harém
da Constantinopla, que chegou a abrigar mais de 1.000 mulheres provenientes de
regiões distantes como o Cáucaso. As meninas e jovens que faziam parte dele,
muitas das quais sequestradas ou vendidas pelas próprias famílias, possuíam uma
beleza extraordinária. Uma vez que passavam a formar parte do harém se
convertiam ao Islã e recebiam ensinamentos sobre música, poesia e dança. E se
agradavam ao sultão se tornavam suas concubinas. (Velásquez)
Em 1639, um mercador francês chamado Du Luir viajou com o
embaixador francês Jean de la Haye a Estambul, onde ficou por sete meses. Ele
conta que em uma refeição a que foi convidado as mulheres se sentavam atrás de
uma cortina e escutavam música, primeiro interpretada por homens e logo unicamente
por mulheres.
Estas mulheres, chamadas çengi, tocavam el çeng,
outras tocavan um instrumento de pescoço longo com o corpo redondo, chamado
kemaçe ou um instrumento de percussão e outras cantavam e dançavam com uma
espécie de castanholas conhecidas como çalpara.
Em 1650 o diplomata veneziano Ottaviano Bom publicou um livro
em que relata que jovens concubinas do palácio tocavam instrumentos, cantavam e
dançavam (Aksoy)
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